Coisas que me dão na telha, de vez em quando, e que quero deixar registradas, nem que seja num blog.







terça-feira, 27 de outubro de 2009

Chaves


     Hoje fiquei mais jovem. Se não aparentemente, pelo menos virtualmente, de acordo com uma teoria minha. Ela diz o seguinte: quanto mais velhos ficamos, mais chaves temos no chaveiro. Olhe quantas chaves têm no seu chaveiro. Agora, no chaveiro dos seus filhos. Estou certo?
     Meu pai tinha um chaveiro repleto de chaves, que estava sempre preso ao cinto. E isso que naquela época, há 50 anos, nem se precisava trancafiar tudo, pois os amigos do alheio eram em número bem menor do que hoje. Pelo menos em número menor do que o de chaves que se carregava. Mas meu pai sempre gostou de trancar tudo. Tinha seus armários cheios de livros — um dos seus tesouros —, os quais, quando emprestava, fazia uma ficha, assim como nas bibliotecas; também tinha cofre e gavetas com documentos, sempre chaveadas. Mais as chaves de casa e do escritório. Seu chaveiro era enorme.
     Hoje em dia, os portões e portas das casas, apartamentos e dos nossos locais de trabalho têm, no mínimo, duas fechaduras. São comuns portas com três fechaduras. Meu chaveiro, por exemplo, tinha, até há poucos minutos, 10 chaves. Vejamos: a do portão da grade do edifício; a da porta do edifício; a da caixa de correspondência; duas da porta de segurança do apartamento; duas da porta do apartamento; a do portão lateral da grade do prédio; a da lixeira do prédio; a do claviculário do meu trabalho... Dez. Eram 11, mas minha mulher precisou de uma que eu tinha, que é da porta da grade de ferro de um edifício onde ela tem um apartamento.
     Como eu disse, fiquei mais jovem. Me livrei de três chaves de uma só vez. Deixei numa gaveta de minha escrivaninha, no trabalho, a do claviculário. Fazia anos que ela compunha o molho. Não tinha mais sentido. Estava lá desde a época em que o claviculário era chaveado. Não é mais. Está sempre aberto, portanto, não preciso dessa chave. Também tirei do chaveiro uma das duas da porta de segurança do apartamento e uma das duas da porta do apartamento. A gente sempre chaveia só uma das fechaduras mesmo. Pra que ficar envelhecido com chaves que a gente não usa?
     Daqui a algum tempo pretendo me livrar de mais uma: a da lixeira. Essa só tenho porque sou síndico e devo fechar a lixeira do prédio depois da passagem do caminhão de coleta. Não preciso abrir, pois quem o faz é uma catadora de reciclável, com quem mantenho um trato.
     Nessa contagem não estou incluindo a chave do carro, que tem seu próprio chaveiro. Neste ainda há a chave do portão da garagem do prédio (para o caso de faltar energia e não puder usar o controle remoto) e a do cadeado da porta da minha garagem, portanto, mais três chaves.
     Estou me sentindo ótimo. Pelo menos uns 10 anos mais jovem.

sábado, 24 de outubro de 2009

The Old Stones


     Em 1966, aos 16 anos, embalado pela beatlemania, decidi que queria ser músico. Não sei se pro resto da vida, mas queria tocar numa banda, que, naquela época, se chamava conjunto. Conheci o, Júlio, irmão de uma guria de quem eu gostava, que sabia tocar violão. Sentávamos no cordão da calçada, em frente à casa dela (e dele também) e ficávamos cantando músicas dos Beatles. Sei lá o que dizíamos no nosso inglês de ouvido.
     Para ser igual aos Beatles (olha a pretensão!), no entanto, o conjunto tinha que ser de quatro. Foi então que convidei o Buffalo, um amigo com quem eu passava as tardes na Rua da Praia, e o Português, irmão mais moço de um colega de aula. O Português também sabia tocar violão; o Buffalo sabia tocar o mesmo que eu, ou seja, nada... Como eu tinha uma certa coordenação motora e era o que tinha o maior nariz, resolvi ser o baterista. Ao Buffalo restou o contrabaixo.
     Já na garagem da casa do Júlio, Buffalo começou a aprender com os outros dois alguns acordes para, mais tarde, aventurar-se com o contrabaixo.
     Eu ainda não tinha bateria. Na garagem da casa do Júlio tinha um antiga eletrola (aparelho composto de toca-discos, amplificador e alto-falante, combinados em uma só unidade). Não funcionava mais. Era só um móvel velho. O suporte dos discos estava sem o feltro e funcionava como prato, pois fazia pim-pim ao ser tocado com a baqueta; a tábua de baixo, onde eu batia com o pé direito, tinha um som grave e seco, fazendo som de bumbo; ao lado do prato tinha um pedaço de compensado, meio rachado, que eu usava como caixa da bateria.
     E assim fomos passando as tardes dos sábados. A essa altura eu já namorava a irmã do Júlio.
     Precisávamos, contudo, sair da garagem, mostrar nosso talento para o público, fosse qual fosse (tanto o talento como o público). Mas não podíamos, porque faltava a tal de bateria. O Júlio e o Português já tinham guitarras; o Buffalo já tinha contrabaixo; eu só tinha a velha eletrola, que nem era minha...
     Acreditando no talento do grupo e, especialmente, com pena de mim, dona Nilza, mãe do Júlio e da Vera, conseguiu — não sei como — um arremedo de bateria. O instrumento compunha-se de um tarol e um bumbo de banda marcial, um ton de madeira sem fundo e um prato bem grosso pendurado num suporte preso ao próprio bumbo. Ah, e tinha também pedal de bumbo. Pronto! Estava completo o conjunto The Old Stones!
     E, também não sei como, surgiu o primeiro "contrato": tocar numa festa de escolha da Rainha da Primavera do Chapéu de Sol. Quem não sabe, Chapéu de Sol é um bairro não oficial da zona sul de Porto Alegre. Era tarde de um sábado de outubro e lá fomos nós, de Kombi. Fomos recebidos com pompa e circunstância pelo presidente do clube local. Ele nos acolheu na própria casa, que funcionou como uma espécie de "camarim".
     Chegou a noite e fomos para o clube. Todos os presentes, pessoas dos oito aos 80 anos, nos olhavam com admiração e curiosidade. Deviam estar pensando: "Bah! Um conjunto de cabeludos do centro. Que legal, que pretígio! Uma brasa, mora!"
     Começou o baile. Espichávamos as músicas o máximo que dava. Cada vez aumentávamos mais o espaço entre uma e outra. O leitor deve estar se perguntando o porquê disso. Simples: só tínhamos 13 músicas ensaiadas... O que nos salvou foi o desfile das candidatas e a respectiva escolha, além de uma galinhada oferecida atrás do clube, durante a festa. Retornamos ao baile e, novamente, às 13 músicas do repertório. Entre cada três ou quatro músicas repetíamos O Milionário, grande sucesso dos Incríveis.
     Tem um detalhe que esqueci de contar sobre o Buffalo: apesar de já ter contrabaixo, ainda não sabia tocar todas as músicas e, por isso, baixava o volume do amplificador. Mas, assim como não reclamaram do nosso parco repertório, nem notaram que em metade dele não se ouvia o som do baixo...
     A bateria presenteada por dona Nilza funcionou direitinho por um bom tempo.
     The Old Stones cresceu e ficou conhecido em Porto Alegre e algumas cidades do interior. Durou alguns anos e, depois, cada um seguiu seu rumo, tocando em outros "conjuntos".
     Em 1996, para comemorar os 30 anos de que havíamos tocado pela primeira vez, o Buffalo promoveu um jantar dançante e os Old Stones se reuniram de novo.
     

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O diploma de jornalista


     No artigo "Diploma de jornalista: uma questão já decidida" (Correio do Povo, 20/10/2009), Judith Brito, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), condena a tramitação, no Congresso, de duas propostas para incluir na Constituição a exigência de diploma para o exercício da profissão de jornalista. Cabe lembrar que, em recente decisão, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou inconstitucional a exigência do diploma universitário de jornalista para o exercício da profissão.
     Dona Judith é formada em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas, com mestrado em Ciência Política na PUC, portanto, não tem diploma de jornalista, mas trabalha há quinze anos no Grupo Folha.
     Diz a administradora que "as empresas jornalísticas continuarão a contratar a imensa maioria dos seus profissionais entre egressos dos cursos de Jornalismo. [...] ele (o jornal) é o maior interessado em ter os melhores profissionais". E continua, dizendo que a decisão do STF "foi uma definição em favor do direito fundamental da liberdade de expressão, uma das "cláusulas pétreas" da Constituição (que não podem ser mudadas em nenhuma hipótese)".
     Ora, talvez a dona Judith não tenha entendido o que quiseram deixar registrado os legisladores sobre liberdade de expressão nos artigos 5º e 220 da Constituição. Então lá vai:

"Art. 5°, IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
Art. 5°, IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
Art. 5°, XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardo do sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;
Art. 220 - A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.
§1° - Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5°, IV, V, X, XIII e XIV;
§2° - É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística."

     Então eu pergunto: o que tem a ver liberdade de expressão com o fim da exigência do diploma de jornalista para o exercício da profissão? Nada! É puro sofisma da dona Judith e de tantos outros envolvidos com a ideologia jornalística dominante (putz, que jargãozinho esquerdista!). A não ser que ela e os outros — inclusive os ministros do STF — estejam se baseando na expressão "não sofrerão qualquer restrição", encontrada no Art. 220 da Carta Magna. O que os legisladores pretenderam com os artigos 5º e 220 foi prevenir a censura prévia por parte do poder público. A censura, no entanto, está dentro dos próprios veículos.
     De acordo com Edilsom Farias*, "a liberdade de expressão e informação compreende a faculdade de expressar livremente ideias, pensamentos e opiniões, bem como o direito de comunicar e receber informações verdadeiras sobre fatos, sem impedimentos nem discriminações. O objeto da liberdade de expressão compreende os pensamentos, ideias e as opiniões, enquanto que o direito à informação abrange a faculdade de comunicar e receber livremente informações sobre fatos, ou seja, sobre fatos que podem ser considerados noticiáveis".
     Liberdade de expressão e direito à informação, portanto, tem a ver com informação "verdadeira" e "correta"; exigência ou não de diploma se refere á relações trabalhistas, ou seja, só se contrata quem tem a mesma opinião do veículo em que se vai exercer a profissão.
     Nunca acreditei muito que seja necessário um diploma pra se ser jornalista. A informação já existia, os jornais já existiam, os profissionais já se expressavem livremente (on não!) há muito tempo quando surgiram os cursos de jornalismo. Estes vieram suprir uma deficiência acadêmica para o exercício da profissão, bem como para regular uma fatia do mercado de trabalho. Tanto é que, quando começou a ser exigido o diploma, os que não o tinham continuaram trabalhando normalmente — e muitos ainda exercem a profissão —, sem "sofrer qualquer restrição".
     Ainda sobre o artigo de dona Judith: alega a mestre em Ciência Política que a Constituição é um documento de principios filosóficos e que, portanto, não caberia impor-lhe um tema tão específico. Concordo, mas se os princípios da Carta são filosóficos, pra que recorrer da exigência de diploma para o exercício da profissão de jornalista? Aí tem...
     Prefiro ficar com o pensamento de outra mulher, Beth Costa, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas, que pode ser encontrado aqui.

*Edilsom Farias - mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Brasília (UnB), doutorando em Direito Constitucional pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), professor da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) e Promotor de Justiça.
FARIAS, Edilson. Democracia, censura e liberdade de expressão e informação na Constituição Federal de 1988.
Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2195. Acesso em 20/10/2009.

domingo, 18 de outubro de 2009

Uma gata chamada Wanda


     Estava olhando pro editor de textos do blog, ainda em branco, pensando no que escrever quando a Wanda subiu na bancada dos computadores. Opa! Deixa eu esclarecer: a Wanda não é minha mulher nem minha filha. Minha mulher é a Clara e minha filha, a Manuela, que nem mora comigo. A Wanda é minha gata. Pois ela subiu na bancada, caminhou até a frente do meu monitor, me olhou fixamente com seus olhos azuis e miou gelatinosamente baixinho. Como ela sempre faz isso, indiquei a ela que se acomodasse ao lado do mouse. E, como sempre, ela obedeceu.
     A Wanda tem esse nome porque foi assim batizada pelo saudoso Brito em homenagem a sua avó. O Brito era companheiro da Aldanei, ambos colegas de trabalho. Tinham um gato e duas gatas. Não me lembro do nome delas e, se não me engano, o do gato era "Negão". Era um persa preto, de bom coração e bom caráter. Não tinha pedigree, mas era bem garboso. Quanto às gatas, uma era persa e a outra Himalaia. Ambas com pedigree. Pois o Negão traçou as duas na mesma ocasião. Da gata persa nasceram vários filhotes. Todos persas e de cores variadas. Da mãe da Wanda só nasceu ela: uma himalaia sem a cara chata característica da raça, o que a deixou mais linda.
     Consta que nasceu em 1º de janeiro de 1995 estando, então, com mais de 14 anos. Mas tem um corpinho de 13.
     O cotidiano da Wanda é como o de todos os gatos de apartamento: praticamente vive para comer — ou vice-versa — e dorme. Em alguns intervalos dessas duas atividades, no entanto, voa pelo apartamento. Depois de fazer suas necessidades nº 2, parte em desabalada corrida desde a sua caixinha (WC), na área de serviço, até o gabinete em que estão os computadores e onde passamos a maior parte do dia, ou até nosso quarto. O apartamento não tem tapetes e o piso é laminado. Dá pra imaginar as escorregadas que dá antes de se estatelar em algum móvel ou parede. Parece que está participando de um torneio de drift (uma técnica de direção de carros que consiste em deslizar nas curvas deixando escapar a traseira; algo como o conhecido cavalo-de-pau). Outra coisa que gosta de fazer é correr da Lila, nossa cadela PitPoodle (outro dia falo sobre ela). Passa pela Lila olhando de lado e, de repente, taca-lhe um tapa na bunda e sai correndo. Às vezes é alcançada ou encurralada sendo obrigada a ouvir estridentes latidos por algum tempo.
     Teria muitas histórias pra contar sobre essa velhinha, mas vou ficar por aqui. Apreciem-na.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Galos de despachos


     Tem um galo morto na esquina em que moro. Está lá desde a noite de segunda-feira. Ouvi o som de um sininho e fui até a janela ver o que era. Numa das quatro esquinas do cruzamento, junto ao meio-fio, estava um casal, em frente a uma bandeja com coisas dentro que eu não consegui identificar, umas cinco ou seis velas acesas e, no meio da rua, uma porção de pipocas espalhadas. Depois de alguns movimentos corporais, os dois embarcaram no táxi que os esperava e se foram.
     Foi só na terça-feira de manhã, quando saí pra trabalhar, que vi que tinha um galo no despacho. Estava acontecendo o velório dele. Cerca de uma dezena de pombas estava em volta, deliciando-se com as pipocas. Não fiquei pra ver, mas acho que quando acabaram-se as pipocas as pombas devem ter tomado seu rumo. Não ficaram para o enterro, talvez por isso o galo vermelho continue lá.
     Não pense que estou surpreso ou impressionado com isso. Não é novidade. Cerimônias com esse tipo de ave são mais raras, mas existem. Os cachorros sem dono que vagueiam por ali e os que tem dono mas gozam da liberdade de procurar comida no lixo alheio nem dão bola pras pipocas e pros galos mortos que, ocasionalmente, são velados pelas pombas no cruzamento.
     Um dia desses fui despertado pelo canto de um galo. Eram mais ou menos cinco da madrugada. Estranhei muito, afinal, em pouco mais de quatro anos que moro ali nunca tinha ouvido um galo cantar. Mas não levantei. Esperei o despertador me chamar, às seis horas, como sempre. O galo continuava cantando. Antes de começar a preparar o café, fui até a área de serviço pra ver se localizava de onde vinha o canto. E lá estava ele, empoleirado na grade de ferro que cerca a casa da frente. Um grande e lindo galo vermelho. Não podia imaginar como tinha parado ali. Foi então que o guarda da rua saiu da guarita. Fiz um sinal com as mãos indagando o que seria aquilo, o que teria acontecido. Ele sorriu e disse que o galo tinha fugido durante a cerimônia da noite anterior. Cantava de feliz por ter escapado do estrangulamento sumário. Também fiquei feliz por ele.
     Com todo respeito, admito que cada um tenha sua religião, sua crença; e que cada um professe sua fé através das cerimônias pertinentes. Em assim sendo, católicos frequentam igrejas, onde se realizam missas; evangélicos frequentam templos para participarem de cultos; judeus comparecem a sinagogas, e assim por diante. O que não entendo é por que as religiões afros tem que acender velas, colocar oferendas e matar galos na frente da casa dos outros. Sim, eles moram longe dos cruzamentos onde deixam seus despachos, caso contrário não precisariam de táxi para levá-los até ali. Por que não o fazem na esquina da rua onde moram?
     Minha mulher ligou para o DMLU, ontem. Deram prazo de 48 horas para recolher o defunto. Até lá já fedeu bastante...

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Imposto de renda


     Eu não queria, mas vou ter que falar sobre a retenção da devolução do imposto de renda. Dizem os ávidos pelo dinheiro do povo que o governo descapitalizou-se devido à baixa da arrecadação tributária. Alegam que, por causa da crise mundial, o governo se viu obrigado a reduzir impostos sobre alguns bens de consumo para manter a estabilidade da atividade econômica.
     Tudo bem, entendo o processo. O que não entendo é a filosofia da coisa, a lógica ou a logística monetária e tributária.
Neste ano, até este exato momento, estão sendo arrecadados 813 bilhões 940 milhões de reais em impostos. Quando você estiver lendo, já será uma quantia maior (confira em http://www.impostometro.org.br). É um número com 12 algarismos antes da vírgula dos centavos.
     Da parte que me toca, sofro o desconto mensal de um valor com quatro dígitos antes dos centavos a título de imposto de renda. Em um ano esse número fica com cinco algarismos vírgula mais dois. E todos os anos é assim. No ano seguinte, quando se faz a declaração dos "rendimentos" que se obteve no ano anterior, nos é permitido abater algumas coisas, como despesas médicas, com educação etc. Quando se tem a sorte de ter muitas despesas desse tipo e outras, a Receita Federal faz uma conta de chegar e devolve uma parte como compensação. Essa restituição demora de junho a dezembro, não importando se você entregou a declaração no primeiro ou no último dia do prazo. Isso, no entanto, se os técnicos da Receita entenderem que está tudo absolutamente certinho, ou seja, se você é um cidadão misto de economista, contador e conhecedor de informática. Caso contrário, você se ferra e, se concluírem que você tem direito à restituição, ainda vai amargar algum tempo pra receber. Caso acharem que você está sonegando, adeus tia chica, vai acabar desembolsando ainda mais. E às vezes por um engano besta, já que você não é economista, contador ou conhecedor de informática.
     (Acabo de olhar de novo o impostômetro. Já está em quase 814.000.000.000,00!)
     Pois bem, agora estão dizendo que vão atrasar as restituições por falta de caixa! Meu Deus! Eu posso passar o ano inteiro com falta de caixa que nada me salva, não há piedade nem compreensão: no dia em que recebo o contracheque vem aquele desconto a título de imposto de renda. Pontualmente!
     Assim não dá pra ser feliz!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Crianças

     Hoje é Dia das Crianças. Faz mais ou menos 50 anos que deixei de ser uma delas. Nesse período fiz dois exemplares dessa espécie. E com uma mulher só. Minha média de filhos é, então, de 0,66666 por casamento. Maior do que a de gols do Maxi Lopez.
     Mas, falando em crianças, bem que eu gostaria de ter uma a quem dar um brinquedo, hoje, depois levar pra passear em qualquer lugar que ele ou ela quisesse ir.
     Claro que não precisava ser uma criança tipo assim filho ou filha. Podia ser da categoria neto ou neta. Tá difícil: como falei nos dois posts anteriores, meu filho mais moço recém se casou (não que precise casar pra fazer filhos); a mais velha nem pensa nisso...
     Antigamente se dava netos aos pais da gente mais cedo. Eu, por exemplo, casei pela primeira vez com 23 anos. Só fui dar netos aos meus pais, contudo, quando tinha 29 anos, no segundo casamento. Agora, no terceiro, sem possibilidades. E, mesmo que fosse possível, nem teriam avós paternos. Seria muito chato pra eles.
     Mas não estou reclamando. É muito melhor assim: casar quanto já se fez quase todas as sacanagens possíveis, as permitidas e as nem tanto; é muito melhor ter filhos quando se está, realmente, preparado pra isso. Ainda mais nos dias de hoje.
     Vou me manter vivo esperando meus netos que um dia hão de vir.

domingo, 11 de outubro de 2009

O dia seguinte


     Como eu disse ontem, o dia foi especial. Hoje continua sendo. Não está mais aquele céu de brigadeiro, mas me sinto como se estivesse sob um deles.
     O casamento do meu filho foi o do ano, ou, melhor, do século. Vi coisas que nunca tinha visto em casamentos. Um show. Até um grupo de escola de samba apareceu pra sacudir ainda mais a já badalada madrugada dos convivas.
     O espetáculo já começou na igreja, com a entrada de pais e padrinhos, par a par, ao compasso de músicas tocadas ao vivo por um grupo da OSPA. Quando o noivo entrou com a mãe dele, a música interpretada foi a famosa Yesterday. Confesso: deu um nó na minha garganta e passei a enxergar através de um líquido que brotou dos meus olhos. A entrada da noiva foi triunfante: um trompete anunciou a abertura da Marcha Nupcial e logo foi seguido por outros metais, violinos e teclado. As lágrimas que ela derramava no trajeto até o altar faziam sentido: com certeza era um dos momentos mais importantes da vida dela.
     O desenrolar da cerimônia teve a participação especial de Frei Ivo, que, sem aquele tradicional sotaque que os padres têm, disse coisas muito simples mas muito bonitas a respeito do amor, da convivência, do perdão e da caminhada que os noivos teriam pela frente.
     Finda a cerimônia, os convidados foram para a festa. Depois que estavam todos acomodados, o DJ rodou um clipe com fotos do casal desde os tempos de namoro, ao som de "É isso aí", com Ana Carolina e Seu Jorge. De novo aquele nó veio apertar minha garganta (e não era o da gravata, peça de vestuário masculino que nunca uso). Ao fim do clipe, os noivos entraram, cada um segurando um microfone, e cantaram "Um sonho a dois", do Roupa Nova (confira no Youtube). Foi perfeito. A mais original, explícita e recíproca declaração de amor que já vi na minha vida. E aquele nó insistia em apertar minha garganta, cada vez mais.
     Já passava das duas da madrugada quando entrou salão adentro um grupo de bateria e passistas de escola de samba. Foi o ápice. A turma toda caiu na gandaia, especialmente os homens, com os olhares vidrados nos atributos das mulatas seminuas. Saíram depois de algumas músicas e a festa continuou rolando com o som do DJ.
     Já eram quase quatro horas quando deixei a festa rolando e fui embora, trocando os pés em direção ao primeiro táxi disponível.

sábado, 10 de outubro de 2009

Dia especial

     Hoje é um dia especial pra começar este Blog. Está um céu de brigadeiro, como se costuma dizer. De onde estou avisto os prédios da Bela Vista, de Petrópolis e os da PUC, todos abaixo de um azul que começa celeste e se torna mais claro enquanto desce. Alguns podem pensar que eu esteja no telhado do Hospital São Pedro. Não. Daqui também vejo o belo prédio abandonado. No gramado em frente perambulam alguns pacientes que costumam ser chamados de doentes mentais ou loucos. Não vou entrar no mérito.
     Mas eu dizia que hoje é um dia especial. E o é porque, além de estar um lindo dia, casa-se meu filho mais novo. Quem diria! Sei que é meio brega dizer isto, mas há 29 anos eu o pegava no colo; daqui a algum tempo, com certeza, estarei pegando o filho ou filha dele no colo. Espero que, assim como o levava aos jogos do Grêmio no Olímpico Monumental, também tenha oportunidade de fazer o mesmo com o filho ou filha dele.
     Quem o conhece há tempo não vai associar a figura daquele pagodeiro que usava piercing na sobrancelha e calças jeans rasgadas com a daquele noivo com terno meio-fraque, naquela cerimônia com vários músicos da OSPA interpretando diversas músicas conforme o enredo da cerimônia; não vai identificar aquele cara compenetrado no altar como aquele que perdia um amigo mas não perdia uma piada (e ainda não perde).
     Enfim, às 20h45 de hoje estarei subindo ao altar da igreja Santa Terezinha e, ao lado de um time de padrinhos e da mãe do noivo (que tem 50% de responsabilidade sobre a existência dele), presenciando seu casamento.
     Que Marcos e Carol sejam felizes para sempre, que cresçam e se multipliquem, porque vale a pena!