Coisas que me dão na telha, de vez em quando, e que quero deixar registradas, nem que seja num blog.







domingo, 22 de agosto de 2010

A que ponto chegaram



     O transeunte vem caminhando por uma rua central de Porto Alegre e é interpelado por uma jovem. Ela traz uma planilha na mão e pergunta se o sujeito quer responder a uma pesquisa eleitoral. Depois de algumas perguntas básicas, como nome, idade, escolaridade etc., vem uma estimulada sobre a preferência do eleitor quanto à Presidência da República. O cidadão responde, então, que tem intenção votar em Dilma. Com cara de lamento, a suposta entrevistadora — que se nega a dizer para qual instituto de pesquisa trabalha — pergunta se o cidadão não quer dar seu voto para o Serra.
     Ato contínuo, a jovem pergunta se o eleitor quer ganhar um brinde. Ele concorda e a entrevistadora leva-o a um prédio nas proximidades. Lá, o cidadão assiste a seis vídeos, respondendo algumas perguntas ao final de cada um. Alguns deles mostram aspectos negativos da vida da candidata Dilma Rousseff; outros, mostram pessoas comuns falando bem do candidato José Serra.
     Depois que o eleitor assiste aos vídeos, a jovem entrevistadora pergunta: “— O que achou? Te dá mais ou menos vontade de votar na Dilma? E no Serra?” Na saída, o sujeito ganha o brinde — uma caixa de bombons — e lhe dão a recomendação de que deveria refletir bem e considerar a hipótese de votar no candidato do PSDB.
     De acordo com a pessoa que fez a denúncia ao Ministério Público Eleitoral, a entrevistadora confessou, na saída, que muita gente “entra lá disposta a votar na Dilma e sai pensando que o Serra é um herói.”
     Não estou inventando esse fato. Está no jornal (Correio do Povo, 21/08/2010, p. 2). Tanto é verdade que o MPE e a Polícia Federal já realizaram a apreensão dos computadores onde estavam armazenados os vídeos mostrados aos eleitores, formulários da “pesquisa”, notas fiscais e caixas de bombons.
     O representante do MPE, promotor Ricardo Herbstrith diz que “essa é uma questão que, se comprovado o ato de induzir o voto, caracteriza crime eleitoral”.
     A que ponto chegaram!
     Custo a crer, entretanto, que uma atitude dessas seja do conhecimento do candidato beneficiado, muito menos que seja de responsabilidade do partido ao qual pertence. Não quero acreditar nisso. Prefiro pensar que se trata de comportamento de fanáticos — um grupo formado por pessoas mais realistas do que o rei — com ligação meramente ideológica ao que julgam representar a eleição da candidata adversária.
     Não creio nisso, assim como não acreditei no suposto dossiê contra José Serra, que teria “vazado” no início da campanha eleitoral deste ano.
     Pesquisa eleitoral do instituto Datafolha divulgada hoje dá conta de que Dilma estaria com 47% das intenções de voto, contra 30% de José Serra. A pesquisa tem margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
     A pesquisa reflete a intenção de voto dos eleitores brasileiros. Não foram divulgados dados por região ou Estado. Sabe-se, contudo, que, segundo pesquisas anteriores, os gaúchos preferem o candidato Serra. Portanto, a atitude de quem supostamente está tentando aliciar eleitores para o candidato tucano em Porto Alegre, além de criminosa, é ignorante.
     A que ponto chegaram!

Furnarius rufus



     Dia desses, na verdade há alguns meses, percebi que começava a construção de uma casa, bem na frente do prédio onde moro, na esquina. O espaço, ali, é minúsculo, mas habitar é preciso.
     Pensei em fotografar a construção todos os dias, na mesma hora, pra ver a evolução ao final. Mas não deu. Saio muito cedo pra trabalhar, faço tudo na correria. Se ainda tivesse que acrescentar mais essa tarefa ao cotidiano, teria que acordar antes das seis da manhã. De mais a mais, em alguns dias chovia e, além disso, àquela hora, o sol nasce bem atrás da construção, o que iria atrapalhar as fotos. Nem cogitei de fazer em outro horário.
     Não fotografei, mas observei a evolução da obra. Era um casal de operários. Imaginei que ele deveria ser um habilidoso pedreiro e tenha ensinado à parceira as artes do ofício.
     Na frente não havia qualquer placa dizendo que o projeto arquitetônico era de fulano de tal; que o engenheiro responsável era beltrano de tal; que a inscrição do INSS era número x ou que a obra estava sob fiscalização do CREA. Normal. Quase todas as novas moradias desse bairro esquecido pelo poder público não têm placa alguma. Os puxadinhos das velhas habitações também não. Placa na frente só se vê depois da obra concluída: VENDE-SE.
     Os meus novos vizinhos tocavam a obra sem mostrar preocupação com a aparência do bairro. Nem ligavam para aquela camada esburacada de asfalto que um dia foi derramado sobre o calçamento por algum prefeito que pretendia a reeleição. Não sei se foi reeleito. De qualquer maneira, permaneceram ali os buracos irregulares deixando à mostra os paralelepípedos irregulares. Aliás, candidatos por aqui só aparecem em época de eleição e, mesmo assim, não pessoalmente, mas sim com seus jingles sendo tocados a todo volume em carros de som, justamente na hora em que se quer sestear.
     Os novos vizinhos nem estavam aí para grande parte dos moradores do bairro que deixam lixo, caixas de eletrodomésticos, pedaços de isopor e restos de construções nas calçadas, na frente de suas casas; que esse lixo é levado pela chuva e cai nas bocas de lobo, entupindo-as; não queriam nem saber da vegetação que cresce impiedosamente nos meios-fios e que, de muito em muito tempo, é cortada pela prefeitura; não se importavam com a grande quantidade de cães vadios que passam pra cima e pra baixo, provocando latidos ensurdecedores dos que estão atrás dos portões das casas ou nas sacadas dos edifícios; nem com as árvores condenadas por podas mal feitas só para permitir que entre seus ramos passem os fios de energia elétrica e comunicação. Dia-a-dia tocavam o barco, ou melhor, a obra que lhes serviria de domicílio.
     Só ontem, meses depois de a casa estar pronta, procurei saber quem eram, afinal, terei que conviver com eles, pelo menos quando estiver na sacada da sala ou na área de serviço. Descobri que são da família Furnariidae, e que se chamam Furnarius rufus. Intimamente, contudo, preferem ser chamados de joão-de-barro e joaninha-de-barro. É isso mesmo: são aves Passeriformes. Descobri que se alimentam revirando as folhas, buscando insetos no solo. Alimentam-se também de outros invertebrados, como minhocas, e de restos alimentares humanos, como pedaços de pão.
     O Furnarius rufus, ou melhor, o joão-de-barro, constrói seu ninho de barro em forma de forno, misturando palha e esterco seco com barro úmido. Instala seu ninho sobre árvores, postes de eletricidade o peitoris de janelas. No caso desses meus vizinhos, construíram o ninho num poste. Soube que não utilizam o mesmo ninho por duas estações seguidas, fazendo um rodízio entre dois ou três ninhos, reparando ninhos velhos semidestruídos. Quando não há mais espaço para a construção de novos ninhos, o pássaro o constrói em cima ou ao lado do velho.
     Diariamente, a partir de seis ou sete da manhã, o casal solta a voz extremamente estridente e canta em dueto, ao lado da nova casa. O ninho é uma bola de barro, dividida em dois compartimentos. A porta, que permite ao pássaro entrar sem se abaixar, impede que o vento atinja o interior, pois é sempre voltada para o norte. No compartimento maior, forrado com musgo, cabelos e penas, a fêmea deposita de 3 a 4 ovos brancos, três vezes ao ano. Ao que me consta, a minha vizinha ainda não pôs ovos. Parece que fará isso no mês que vem. Estou ansioso.
     Existe um mito de que a Joaninha pula a cerca. Inconformado porque a esposa mudou de amor, João tampa a abertura da casa, fechando-a para sempre. Descobri que mesmo pessoas experientes afirmam isto com a maior convicção. É mentira! A Joaninha não trai o João e este não comete um assassinato passional.
     De acordo com o Portal São Francisco, este mito pode ter surgido do fato de que alguns ninhos abandonados do joão-de-barro são aproveitados por abelhas, que fecham a entrada do ninho com uma cera, dando a impressão de ter sido fechado pela ave.
     Outra possível explicação é de Guillermo Enrique Hudson (ornitólogo argentino), em uma obra de 1920, que cita um interessante episódio ocorrido em Buenos Aires. Uma das aves (não foi possível saber se o macho ou a fêmea, pelo fato de serem muito parecidos) foi acidentalmente pega em uma ratoeira que lhe quebrou ambos os pés. Após liberada com muita consternação por quem havia armado a ratoeira, voou para o ninho onde entrou e não foi mais vista, certamente morrendo. O outro membro do casal permaneceu por ali mais dois dias, chamando insistentemente pelo parceiro. Em seguida, desapareceu, retornando três dias após com um novo parceiro. Imediatamente começaram a carregar barro para o ninho, fechando a sua entrada. Depois, construíram outro ninho sobre o primeiro, e ali procriaram. Hudson viu este fato como mais uma “qualidade” do joão-de-barro, por ter tido o cuidado de sepultar sua parceira.
     Aliás, por falar em ornitólogo argentino, o joão-de-barro é a ave símbolo da Argentina, onde é conhecido como hornero. Não sei por que, já que o pássaro é tido como trabalhador e inteligente... (brincadeira).
     No livro Moça Lua e outras lendas, Walmir Ayala, relata o seguinte:

     Contam os índios que, há muito tempo, numa tribo do sul do Brasil, um jovem se apaixonou por uma moça de grande beleza. Melhor dizendo: apaixonaram-se. Jaebé, o moço, foi pedi-la em casamento. O pai dela perguntou:
     — Que provas podes dar de sua força para pretender a mão da moça mais formosa da tribo?
     — As provas do meu amor! — respondeu o jovem.
     O velho gostou da resposta mas achou o jovem atrevido. Então disse:
     — O último pretendente de minha filha falou que ficaria cinco dias em jejum e morreu no quarto dia.
     — Eu digo que ficarei nove dias em jejum e não morrerei.
     Toda a tribo se espantou com a coragem do jovem apaixonado. O velho ordenou que se desse início à prova.
     Enrolaram o rapaz num pesado couro de anta e ficaram dia e noite vigiando para que ele não saísse nem fosse alimentado. A jovem apaixonada chorou e implorou à deusa Lua que o mantivesse vivo para seu amor. O tempo foi passando. Certa manhã, a filha pediu ao pai:
     — Já se passaram cinco dias. Não o deixe morrer.
     O velho respondeu:
     — Ele é arrogante. Falou nas forças do amor. Vamos ver o que acontece.
     E esperou até a última hora do novo dia. Então ordenou:
     — Vamos ver o que resta do arrogante Jaebé.
     Quando abriram o couro da anta, Jaebé saltou ligeiro. Seu olhos brilharam, seu sorriso tinha uma luz mágica. Sua pele estava limpa e cheirava a perfume de amêndoa. Todos se espantaram. E ficaram mais espantados ainda quando o jovem, ao ver sua amada, se pôs a cantar como um pássaro enquanto seu corpo, aos poucos, se transformava num corpo de pássaro!
     E exatamente naquele momento, os raios do luar tocaram a jovem apaixonada, que também se viu transformada em um pássaro. E, então, ela saiu voando atrás de Jaebé, que a chamava para a floresta onde desapareceu para sempre
     Contam os índios que foi assim que nasceu o pássaro joão-de-barro.
     A prova do grande amor que uniu esses dois jovens está no cuidado com que constroem sua casa e protegem os filhotes. E os homens amam o joão-de-barro porque se lembram da força de Jaebé, uma força que vinha do amor e foi maior que a morte.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Digressões


     Acho que perdi uma leitora. E já eram poucos antes dessa defecção. Note, leitor que se mantém fiel, ali onde diz “Seguidores” há oito inscritos. Isto, contudo, não quer dizer que esses oito sejam meus leitores. Talvez, cada um a seu tempo, tenha lido alguma vez e resolveu inscrever-se como seguidor. Depois, nunca mais. Mas também não quer dizer que só aqueles oito costumam ler minhas postagens. Prova disso é que recebo, muito de vez em quando, comentários de anônimos sobre postagens antigas. Claro, o cara coloca o assunto que quer pesquisar no Google e, como o Blogger é da mesma empresa, apresenta seus resultados na primeira página da busca. E lá estou eu, ou melhor, lá está o meu texto sobre o assunto que o cara pesquisou. Ainda bem que comentam, caso contrário nem ficaria sabendo que alguém leu.
     Voltemos a minha leitora que já não lê minhas coisas. Quando escrevi a última postagem de maio, sobre os impostos, desconfiei que ela não leu. Talvez ela seja (ou era) a minha mais importante e influente leitora. Por isso parei de escrever e só voltei agora, em agosto, pouco mais de dois meses depois. Aliás, um parêntese, ou melhor, dois, um para abrir e outro para fechar: naquela hora que escrevi a postagem de maio, a arrecadação de impostos no Brasil estava em R$ 482.427.109.491,56. Sabe em quanto está neste exato momento, às 10h06min34s de 16 de agosto?

R$ 766.917.080.328,40!

     Voltemos, então, a minha leitora que já não lê minhas coisas. Acho que ela não gosta muito do meu estilo. Comecei falando na leitora que já não lê minhas coisas e digressionei, falando sobre impostos. É que quando fiz o primeiro vestibular ainda não tinha redação. Era 1972 e eu tentei Odontologia. Não obtive êxito. Mas não desisti. No ano seguinte, fiz vestibular pra Arquitetura. Também não deu. Naquele tempo, o ensino médio era dividido em Clássico e Científico. Para o Clássico iam aqueles que pretendiam alguma carreira na área das ciências humanas; para o científico, os demais. Eu fui para os demais, ou seja, para o Científico, inclusive porque sabia que não sabia, entre outras coisas, escrever, não era chegado às coisas da gramática e da última flor do Lácio, inculta e bela. Então, pensei em seguir profissões que exigiam coisas das exatas: biologia, química, física, matemática. Não me dei por vencido. Contrariando o meu próprio princípio, em 1975, ingressei na Faculdade dos Meios de Comunicação Social da PUC pra tentar ser, pasme, jornalista! Nada a ver com Científico, Odontologia e Arquitetura. Eram outros tempos e nem precisei fazer redação pra ser jornalista. Enfim...
     Depois de mais essa digressão, voltemos a minha leitora que já não lê minhas coisas. Talvez não seja por causa do meu estilo, que ficou capenga porque não optei pelo Clássico no ensino médio. Acho que ela se ocupa muito em ler, responder e encaminhar os cerca de 327 emails que recebe diariamente; com os 89 scraps que deve responder no Orkut; em jogar o Mah Jongg, no qual tenta insistentemente entrar no Hall of Fame. A propósito, por falar em emails, como a gente recebe entulhos. Tem pessoas entre nossos contatos cujo senso não é muito bom, que acham lindas todas as bobagens que recebem e entendem que têm que encaminhá-las pra todos os destinatários que estão nos seus catálogos. Como geralmente são pessoas do mesmo grupo, chega-se a receber três vezes a mesma coisa durante uma semana. E quase nada é aproveitável, principalmente os esculachos contra o Lula e a Dilma. Estranho é que, no meu caso, não recebo esculachos contra o Serra, por exemplo... Será que nem isso ele merece? E aquelas mensagens de autoajuda, aquelas com exemplos de vida? Bah!
     Bem, deixemos de digressionar e voltemos a minha leitora que já não lê meus textos. Eu insisto em chamá-la de “minha leitora que já não lê meus textos”. Ora, se já não lê meus textos, não posso considerá-la minha leitora. Agora tenho certeza: ela já não tem paciência com meu jeito de escrever. Começo falando de uma coisa e pego outra rota. Ainda vão inventar um GPS literário que avisa, com uma voz feminina sensual, tipo voz de aeroporto, quando o redator perde o fio da meada: — Volte atrás uma frase e repense seu texto. Você mudou de assunto! Mantenha a coerência. Pra mim seria ótimo.
     Quanto à leitora, finalmente prometo confessar: como sei que já não lê meus textos? Simples: é que, antes do tempo que dedica aos emails, Orkut e Mah Jongg, cumpre tarefas importantes como cuidar da casa, dos animais de estimação, das compras, do almoço, da janta, das contas a pagar, de levar a mãe a médicos... E, é claro, o principal: cuida de mim, deita todas as noites comigo e acorda todas as manhãs ao meu lado. Ela tem meu perdão. Seria querer demais que, além de tudo que faz, ainda descolasse um tempinho pra ler minhas digressões. Ela não precisa ser minha leitora. Quero apenas que continue sendo minha mulher, sem desvio de rumo ou de assunto, pro resto da vida!
     Hoje ela está de aniversário.
     Mesmo que não leias esta postagem, te deixo aqui um beijo e um abraço. Parabéns, meu amor!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O velho do saco e a bomba nuclear



     Quando eu era pequeno, ou melhor, quando meus pais eram pequenos, melhor ainda, desde quando os pais dos meus pais eram pequenos, os pais, avós e tios dessas gerações tentavam domar crianças bagunceiras, desobedientes e rebeldes com uma lenda urbana: o velho do saco. Diziam que, se a criança não se comportasse, não fizesse os temas, dissesse palavrão, se negasse a tomar banho ou só quisesse saber de rua seria entregue ou apanhada pelo velho do saco. O sujeito em questão era um velho mal vestido e sujo, com um saco enorme às costas, onde colocava as crianças com as características já citadas. Ou a criança seria entregue ao velho quando passasse, ou o próprio se encarregaria de pegá-la, quando ela estivesse na rua em vez de estar comportada em casa fazendo o tema da escola.
     Mas o que o velho fazia com as crianças que carregava no saco? Diz a lenda que fazia sabão com elas, assim como se diz que é o que é feito com cachorros de rua, sem dono, que são apanhados pela carrocinha.
     Não se sabe quando exatamente começou essa história. Estima-se que começou a ser contada logo após a chegada dos primeiros ciganos no Brasil, no final do século XIX. Os ciganos, nômades originários do norte da Índia, espalharam-se pelo mundo e, em todos os lugares onde tentaram se estabelecer, eram considerados vadios, ladrões e raptores. Há, inclusive, uma versão alternativa em que, em vez do velho do saco, era um cigano que pegava as crianças (provavelmente pra transformar em tachos e utensílios de cobre).
     Eu nunca fui ameaçado com o velho do saco. Não que eu fosse um anjo, mas acho que meus pais sabiam que eu não era idiota e, em vez do velho do saco, me aplicavam castigos como não sair do quarto, não ganhar determinado presente, etc. Tinha colegas, no entanto, que se borravam de medo de o velho aparecer de repente na pracinha. Mas não deixavam de correr atrás da bola. Imagino que os pais dos Ronaldinhos e Robinhos nunca os assustaram com essa história...
     De outra parte, na sexta-feira (06 de agosto), fez 65 nos que os Estados Unidos lançaram sua primeira bomba nuclear sobre a cidade de Hiroshima, destruindo-a por inteiro. Três dias depois, repetiriam o horrendo feito sobre Nagasaki. Calcula-se que 70 mil pessoas morreram na hora ou poucas horas depois das explosões. Outras 130 mil morreram nos 5 anos subsequentes, em função de ferimentos e doenças causadas pela exposição à radiação. A verdade é que nunca se saberá ao certo quantas centenas de milhares de vidas foram tomadas ou afetadas para sempre com apenas duas explosões.
     Todo mundo sabe que essa história não é uma lenda. Ela começou em 2 de agosto de 1939. Albert Einstein (um dos cientistas mais respeitados na época), atendendo a pedidos de outros cientistas, escreveu uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt. Na carta, Einstein dizia que os EUA deveriam priorizar o desenvolvimento de uma bomba baseada em energia nuclear antes que os alemães o fizessem. Nascia, assim, o Manhattan Project, com o propósito de desenvolver a bomba atômica. Seis anos depois, em 16 de julho de 1945, no estado de New Mexico, a primeira bomba nuclear foi detonada como teste. Os próprios soldados americanos foram utilizados como cobaias para os efeitos da radiação. O então presidente Harry Truman, querendo forçar o Japão a sair da guerra, ordenou que fossem lançadas as bombas sobre Hiroshima e Nagasaki. Obteve a rendição do governo japonês e o consequente fim da 2ª Guerra Mundial.

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     A bomba nuclear passou a ser, desde então, o velho do saco da humanidade. A 3ª Guerra Mundial propriamente dita nunca passou de uma Guerra Fria pelo medo de que um dos lados lançasse bombas nucleares sobre o outro e vice-versa. Os “pais” da humanidade passaram anos ameaçando-se sub-reptícia e mutuamente.
     A guerra fria, contudo, ainda não terminou. Os “pais”, agora, temem de que os “filhos” construam um velho do saco, digo, a bomba nuclear e “irresponsáveis, desobedientes, bagunceiros e rebeldes” como são, explodam-nas na cara dos “pais”

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      O velho do saco e a bomba nuclear. Uma lenda e uma verdade politicamente incorretas que trazem consequências psicológicas assustadoras.